há 21 horas
Publicado por Lucas Ribeiro

Chego à Cape Town, uma das três capitais da África do Sul, cidade que sedia o Poder Legislativo nacional. No caminho do aeroporto ao hotel visualizo pela janela do carro, na fachada de um prédio imponente e moderno, um enorme vitrô colorido com a imagem de Nelson Mandela. Impossível não pensar imediatamente no quanto a política no Brasil tem seus momentos medíocres e pequenos protagonizados por pessoas que não deveriam estar no lugar em que estão.
Em nosso país há, recorrentemente, políticos que ocupam cargos grandes demais para a estatura que possuem. Hugo Motta parece ser um desses casos clássicos em que a cadeira cresce, mas o ocupante não acompanha. A Presidência da Câmara dos Deputados exige firmeza, liderança e, acima de tudo, respeito institucional. O que se vê, no entanto, é um presidente que hesita, tergiversa e, quando deveria agir como manda a Constituição, escolhe o caminho da omissão - sempre o mais confortável para quem não quer desagradar ninguém, mas que acaba desagradando a representação que recebeu e a própria democracia.
O episódio envolvendo a perda de mandato de Carla Zambelli é didático. A Constituição é clara: condenação criminal transitada em julgado implica a perda do mandato. Não é opinião, não é interpretação criativa, não é pauta ideológica. É regra. Cabe ao presidente da Câmara encaminhar o processo pela Mesa Diretora, cumprir o rito, preservar a autoridade da Casa. Hugo Motta não o fez. Preferiu empurrar com a barriga, como se a Constituição fosse um detalhe burocrático e não o fundamento da República. E está caminhando para o mesmo com Alexandre Ramagem.
O resultado no episódio com a deputada que está presa na Itália no aguardo da extradição, é uma cena constrangedora: a deputada condenada debochando da autoridade do presidente da Câmara e renunciando ao mandato, como quem diz “não preciso de você para nada”. É o retrato acabado da fragilidade política. Quando um presidente da Câmara é reduzido a espectador de uma criminosa condenada fazendo troça da instituição que ele deveria comandar, algo está muito errado. Pior, se o movimento da presidiária tivesse sido fruto de um acordo com o próprio presidente da Casa.
Nesse ponto, é impossível não dar razão a Arthur Lira. Sim, Arthur Lira. Quando até o antecessor e padrinho, conhecido por seu estilo trator, classifica a gestão como uma “esculhambação”, talvez seja hora de parar e refletir. A Câmara virou um espaço onde as regras valem até alguém resolver ignorá-las - e ninguém faz nada.
Para tentar compensar a própria fraqueza, Hugo Motta aposta numa aliança tão previsível quanto fadada ao fracasso: o narciso-bolsonarismo. Um campo político que só defende a si próprio, que não conhece lealdade e trata aliados como descartáveis. A história recente está aí para provar. Que o diga Tarcísio de Freitas, rifado sem cerimônia em sua pretensão presidencial assim que deixou de ser útil ao projeto personalista de sempre.
A política exige escolhas, coragem e enfrentamento. Hugo Motta escolheu a hesitação, a ambiguidade e a submissão. No fim, não agradará nem aos que tenta cortejar, nem aos que esperam da Presidência da Câmara o mínimo: respeito à Constituição e autoridade para exercê-la. Cargo grande demais, política pequena demais.
Oliveiros Marques é sociólogo, publicitário e comunicador político.
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